A morte e o renascimento das borboletas.

A única coisa que eu queria de ti era um amor quente, forte e intenso, como um café acabado de tirar da máquina, mas sem açúcar.
Em vez disso, deste-me um copo de água.
Porém, o copo estava sujo e a cheirar mal.
A água não era límpida; muito pelo contrário, estava super escura, com um cheiro forte e um sabor indescritível.
Sim, um sabor indescritível. Mesmo tendo visto o estado daquele copo e sentido aquele cheiro que me deu voltas e mais voltas ao estômago, prendi a respiração, contei até três, fechei os olhos e bebi a água até à última gota.
Água essa que, enquanto descia a minha garganta, ia-me queimando por dentro.
Passados uns segundos, senti um grande desconforto no meu estômago.
Eram as borboletas que lá moravam a serem mortas pela água que tu me deste para eu beber.
Tive de correr para a casa de banho para vomitar por causa da enorme indisposição que estava a sentir.
Quando acabei, parei por uns segundos para ver o que tinha acabado de tirar de dentro de mim.
Vi pedaços de asas de borboletas eram brancas, amarelas e azuis, envolvidas naquela água nojenta.
Sentei-me no chão e chorei.
Tu bateste à porta da casa de banho e gritaste bem alto: "Cada um dá o que tem no coração, e os outros, mesmo vendo os sinais, aceitam por acreditarem que aquilo que vão receber é melhor, e no fundo nunca é."
Aí sim, chorei como nunca tinha feito na minha vida.
Na manhã seguinte, olhei-me ao espelho e tinha os olhos muito inchados.
Fiquei um bom tempo a fitar a minha imagem e percebi que, ao tentar fazer os outros ficarem, perdi-me de mim mesma.
Quase já não me reconhecia e senti uma repentina saudade do meu eu do passado, de como eu era antes de toda a dor.
Aquela menina mulher com brilho nos olhos e amor pela vida ainda estava ali, e é por ela que eu tinha de lutar. Percebi então que, naquele momento, ia começar a transformação mais bonita, de um amor de dentro para fora, como se estivesse prestes a entrar num jardim de borboletas com as asas das cores de um arco-íris.


Nota importante: este texto foi escrito com a colaboração da minha querida amiga, Núria Faria.


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